A nova remessa de fatos que Snowden atirou para a fogueira desse escândalo internacional provocou uma tensão entre os aliados. Afinal a NSA vasculhava, sem qualquer pudor, as informações pessoais dos franceses, mas não apenas dos cidadãos comuns da república. O presidente dos EUA Barack Obama teve de telefonar com urgência e apresentar desculpas ao seu colega François Hollande. O líder norte-americano prometeu mesmo que os serviços secretos dos EUA iriam rever os seus métodos de trabalho de forma a garantirem a segurança e simultaneamente evitarem se imiscuir na vida privada dos cidadãos. Claro que os EUA nem sequer equacionarão a possibilidade de renunciarem totalmente à vigilância. Assim, não se entende quais serão exatamente as reformas dos serviços secretos estadunidenses. Isso apesar de hoje haver apenas duas possíveis abordagens do problema, referiu na sua entrevista à Voz da Rússia o Professor Yuri Yudenkov da Academia Russa de Serviço Público:
"Existe uma determinada visão desse problema por parte da República Popular da China, onde o acesso à Internet é simplesmente limitado. O Estado considera como sua prioridade a preocupação com a alimentação e saúde dos cidadãos, e só depois as liberdades individuais, o conhecimento e a alfabetização. Ou seja, temos a posição do liberalismo, quando nós permitimos tudo e então deixamos de ter uma separação entre o Estado e o indivíduo. Ou então não permitimos que ele se imiscua na nossa vida, mas nesse caso o Estado também não se preocupa conosco".
Talvez Barack Obama conheça alguma receita especial para manter o meio-termo num assunto tão complexo como vigiar o mundo inteiro? Dificilmente Washington quererá aplicar esse tipo de receita, tudo indica que ele não tenciona abdicar do controle total. Tanto mais que nisso já se investiram somas astronômicas. O antigo funcionário da CIA Edward Snowden falou neste verão sobre o programa secreto de vigilância eletrônica norte-americano com o nome de código PRISM. Com a sua ajuda os serviços secretos dos EUA tinham acesso direto aos servidores centrais das principais companhias da web.
Ao longo de vários anos sob a vigilância do PRISM se encontravam milhões de cidadãos brasileiros, incluindo a própria presidenta do país. A NSA vigiava até 20 milhões de chamadas telefônicas por dia na Alemanha e escutava os telefones de cidadãos russos. Nem as sedes da ONU e da Agência Internacional de Energia Atômica escaparam ao olho vigilante e ao ouvido apurado dos agentes secretos. Por isso a promessa do líder americano em descobrir um certo “equilíbrio” não passa de uma tentativa para apaziguar a opinião pública, diz o politólogo Serguei Mikeev:
"Enquanto os norte-americanos mantiverem o seu projeto de domínio global, enquanto eles declaram oficialmente o mundo inteiro como zona dos seus interesses vitais, os serviços secretos estadunidenses continuarão a vigiar usando de todos os meios ao seu dispor. Tudo o resto será apenas uma cobertura, uma desculpa para a opinião pública, não passará disso. A vigilância existiu, existe e irá continuar. Isso não passa de um truque, de uma tentativa de acalmar a opinião pública depois de todos estes escândalos".
Barack Obama terá de acalmar a opinião pública durante muito tempo porque as revelações só agora começaram a ser feitas. Glenn Greenwald, antigo jornalista do britânico The Guardian declarou que está preparando novos materiais recebidos de Edward Snowden. A maioria das notícias “bombásticas” se refere à espionagem dos serviços norte-americanos na América Latina: na Argentina, na Venezuela e em todos os restantes países. Aqui a agência leva a cabo muitas das suas operações de espionagem visando especialmente a atividade econômica dos países da região e os seus governos. A NSA também dedicou atenção ao vizinho mais próximo dos EUA que é o Canadá. Se aguarda a reação de Madrid, de Roma e de outras capitais europeias: já se sabe que o seu aliado principal analisava o correio e escutava os telefones dos funcionários das instituições europeias.