segunda-feira, 21 de outubro de 2013

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CF

'Não acredito em conflito étnico no Congo', diz general brasileiro

Fortalecido por mandato da ONU, comandante das tropas de paz planeja ofensivas para acabar com grupos rebeldes

21 de outubro de 2013 | 3h 01


Adriana Carranca - Enviada especial - O Estado de S.Paulo
GOMA, REP. DEMOCRPATICA DO CONGO - "Eu não acredito em conflito étnico! Os grupos (que atuam no leste do Congo) agem como criminosos por interesses próprios de poder e dinheiro. E temos de neutralizá-los", discursava o general Carlos Alberto dos Santos Cruz, em uma manhã abafada e empoeirada, no alto de um morro em Kibati, no leste conturbado da República Democrática do Congo. Atentos, os 15 embaixadores do Conselho de Segurança (CS) da ONU suavam sob o sol escaldante - entre eles, Samantha Power, dos EUA, que anotava tudo a lápis em seu bloquinho.
A visita do CS foi uma primeira avaliação sobre o novo mandato, que deu às tropas de paz da ONU, comandadas desde junho pelo militar brasileiro, maior poder de força contra grupos armados. A guerra no Congo dura quase 2 décadas e já deixou mais de 6 milhões de civis mortos - o que a ONU não conseguiu evitar.
O novo mandato tenta corrigir isso. "Santos Cruz é visto como a pessoa mais competente para a função, porque traz na bagagem a experiência no comando de uma força de paz agressiva no Haiti, que teve resultados", diz Jason Stearns, especialista em Congo, que liderou para a ONU um estudo sobre a violência no país.
A decisão do CS foi tomada no rastro de uma ação do grupo rebelde M23, que em dezembro tomou de assalto Goma, o centro das operações da ONU no país. Eles bombardearam a cidade, ocuparam ruas e o aeroporto. Mais do que uma demonstração de força, o ataque foi um golpe contra a organização e alimentou a hostilidade da população, que se sente desprotegida e critica a inoperância das tropas de paz.
Após novas ofensivas, os capacetes azuis da ONU, já sob o comando de Santos Cruz, empurraram o grupo 20km para fora dos limites da cidade, em uma batalha que durou nove dias. "Estamos impressionados com a rapidez com que o mandato foi implementado. Santos Cruz começou no meio de uma crise, mas já conseguiu dar à missão o caráter mais robusto que esperávamos e mandou um recado muito claro aos grupos armados ao expulsar o M23 de Goma", disse ao Estado o embaixador da Grã-Bretanha no CS, Mark Grant.
Aos 61 anos, com 1m75 e 75 quilos mantidos desde a juventude com uma rotina pesada de exercícios, o engenheiro formado em política no Army College dos EUA e ex-adido militar na Rússia é visto pelos subordinados como um "combatente". "Ele é maluco. Bombas caindo e ele caminhava no campo, liderando as tropas do solo. É um combatente de verdade", disse um soldado indiano sobre a batalha de Kibati.
Nessa entrevista, em duas datas - em Kinshasa, capital do Congo, e em Goma, durante a visita do CS, o general brasileiro mostra a sua visão do conflito e revela a estratégia para proteger civis e recuperar a credibilidade da ONU.
Críticas. A maneira de fazer a população voltar a ter confiança nas tropas de paz é com ação. No Congo não há outra opção, se não agir. Só quando eliminarmos, neutralizarmos os grupos armados teremos o reconhecimento da população. É por isso que temos de mudar a atuação das tropas. Diante das violações contra civis, você tem de acelerar o combate.
Estratégia. Temos hoje tropas em 83 partes do Congo. Essa configuração se deu porque havia uma concepção de que era preciso estar perto da população para que se sentisse protegida. Mas num país de proporções continentais isso é impossível. Com a experiência que temos agora, percebemos que devemos mudar esse caráter de polícia das tropas. Precisamos nos antecipar às ameaças, ir atrás (dos grupos rebeldes), neutralizá-los e não apenas estar com a população de forma estática. Essa atitude tem de ser substituída por outra, mais dinâmica e pró-ativa. Mas, para isso, é preciso ter uma unidade no entendimento sobre o novo mandato. Foi o que eu disse ao CS....LEIA MAIS

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