terça-feira, 1 de janeiro de 2013

ESTUPRO OU ESTRUPO?

AOS JOVENS FOI NEGADO O CONHECIMENTO E OS VELHOS OS ACOMPANHAM NA DESCIDA AO POÇO DA IGNORÂNCIA


A destruição do sistema educacional transformou os jovens em imbecis diplomados e faz nossa Nação andar tropega, como bebada, arrastando


Transcrevo abaixo um texto do jornal Estado de São Paulo, encontrado em ESTADÃO.COM.BR, cujo laço/link está abaixo desta página, com texto brilhante de José de Souza Martins sobre a destruição do sistema educacional brasileiro, ao qual faço coro.

Inclusive até no próprio jornal Estado de São Paulo se percebe a quanto desceu o nível cultural dos redatores, jornalistas, pois a cada dia é mais comum encontrar erros grosseiros de ortografia, de linguagem; por exemplo ali, a alguns dias passados encontrei em reportagem o termo "estrupo", ao invés do correto 'estupro'

......(Crimes em alta - Apesar do papel mais importante desempenhado pelas mulheres no país, crimes de gênero estão em alta na Índia. Em 2011 foram registrados 24 mil casos de estrupo - 17% só na capital, Nova Déli. O número é 9,2% maior do que no ano anterior.......).

Algo que passa despercebido aos educadores, até especialistas em ciências sociais como psicólogos e antropólogos é que o chamado bom senso é decorrente da estimulação de nossos sistemas de percepção, visão, olfato, paladar, audição e tacto, pois nossa percepção, nossa compreensão do mundo se dá pelo que percebemos, o que chega ao nosso cérebro pelos sentidos (o que sentimos, como sentimos, quando sentimos e por onde sentimos ou percebemos) e que nosso equilíbrio não é só resultante da propriocepção, mas também da utilização inteligente do que aprendemos e apreendemos das informações às quais temos acesso. Que matéria importante para estimulação de nossos sentidos foi praticamente eliminada dos curriculos escolares, a Educação Física. Tal eliminação ou mesmo praticamente desprezo por essa matéria, Educação Física, omite aos nossos jovens uma fonte de aprendizado de bom senso, propiciando desorientação pela falta do aprendizado de boa percepção.

As constantes reformas ortográficas também são um fator a se considerar, pois a linguagem, a nossa linguagem é o arcabouço da estrutura dos nossos pensamentos e do nosso sistema de memória e aqui dou um exemplo ao comparar nosso cérebro com um computador: considere seu computador trocando constantemente o programa principal, um dia o Windows, outro dia o Mac, outro dia o Linux, um dia com navegador Chrome, outro com o Firefox, outro com Internet Explorer, outro com Safari, outro com Opera e perceberá a confusão que surgirá quando utilizar o computador. Mesmo pequenas modificações em nossas vidas, em nosso dia a dia, resultam em confusões, por exemplo quando sua esposa muda suas meias de local, de gaveta, também seus livros, seu cigarro, bebida, resultam em desorientação (..... o ponto de partida do indivíduo é caracterizado pelo que se tem designado por "atitude existencial", ou uma sensação de desorientação e confusão face a um mundo aparentemente sem sentido.....).

Tais ocorrências, falta de treino para percepção e alterações em nossa linguagem, tem como resultado o estado crepuscular muito comum no Brasil, o sujeito vivendo como num estado hipnótico, como se em transe, com percepção alterada, não conseguindo reagir a situações críticas, a situações ameaçadoras; tal estado crepuscular é muito semelhante a situações psicopatológicas, com diferenças mínimas.


"As anormalidades da consciência podem ser classificadas como quantitativas ou qualitativas. Nas alterações quantitativas, há variação do nível de consciência, ou seja, da claridade com que os fenômenos psíquicos são vivenciados, o indivíduo apresenta fala, pensamento e emoções que dificilmente podemos entender, confunde percepções, não consegue fixar sua atenção e geralmente está desorientado. As alterações qualitativas referem-se a variação de amplitude do campo de consciência. Uma alteração qualitativa, é o estado crepuscular, onde há um estreitamento do campo da consciência, o paciente parece ter perdido o elo com o mundo exterior, quase não fala e age como se estivesse psiquicamente ausente" *1


"Desorientação é um estado psíquico funcional em virtude do qual não temos consciência plena da situação real em que nos encontramos. É indubitável que, ao contrário da Desorientação, aOrientação depende, antes de mais nada, da integridade psíquica e do estado de consciência e, uma vez perturbada esta consciência, altera-se concomitantemente a orientação. A Orientaçãomobiliza, em sua execução, fatores que muito cooperam em sua eficácia funcional e que envolvem o exercício de certas operações mentais, bem mais complexas do que se conhece........" *2



O que sobrou da sala de aula

Reflexão para um tempo de altas apostas na educação: a praga do economismo não distingue uma escola de uma fábrica de pregos

30 de dezembro de 2012 | 2h 06

José de Souza Martins* - O Estado de S. Paulo
Já foi o tempo em que a educação fazia parte do cardápio de otimismos que se costuma apresentar nas passagens de ano. No último meio século, a educação pública e gratuita, que garantira a formação de grandes nomes e grandes competências nas várias profissões, que assegurara o grande salto da sociedade escravista à sociedade moderna, foi progressivamente diminuída e até injustamente satanizada em nome de interesses que não são os do bem comum. O estado de anomia em que se encontra a educação brasileira pede, sem dúvida, a reflexão crítica dos especialistas, mas uma crítica que a situe na trama própria de tendências problemáticas da modernidade sem rumo para que seja compreendida e superada.
A educação brasileira foi atacada por três pragas que subverteram a precedência do propriamente educativo na função da escola e do processo educacional: o economismo, o corporativismo e o populismo. O economismo na educação não distingue entre uma escola e uma fábrica de pregos. A pedagogia do economismo confunde aluno com produto e trata a educação e o educador na perspectiva da produtividade, da coisa sem vida, da linha de produção. Importam as quantidades da relação custo-benefício. Não importa se da escola não sai a pessoa propriamente formada, transformada. Importam os números, os índices, os cifrões. Presenciei os efeitos dessa mentalidade na apresentação de um grupo de militantes da causa das cotas raciais perante o conselho universitário de uma das três universidades públicas de São Paulo, de que sou membro. Aliás, nenhum deles propriamente negro: "Não queremos vagas em qualquer curso; queremos em engenharia e medicina, cursos que dão dinheiro", frisaram.
Quer o governo que os royalties do pré-sal sejam destinados à educação e nem temos certeza de que isso acontecerá. Os políticos têm outras prioridades, especialmente a das urnas. Já estamos gastando o dinheiro que ainda não saiu do fundo do mar. Mas não sabemos em que esse dinheiro fará o milagre de transformar, expandir e melhorar a educação brasileira e de elevar substancialmente o nível da formação cultural das novas gerações. Dinheiro não educa. Quem educa, ainda hoje, é o educador. É inútil ter máquinas, computadores, tecnologia, maravilhas eletrônicas na sala de aula se, por trás de tudo isso, não houver um educador. Se não houver aquele ser humano especializado que faz a ligação dinâmica entre as possibilidades biográficas do educando e os valores e requisitos de um projeto de nação, a nossa comunidade de destino. Se não houver, sobretudo, a interação viva entre quem educa e quem é educado, se não houver a recíproca construção de quem ensina e de quem aprende. Se não houver a poesia deste verso de Vinicius de Moraes: "E um fato novo se viu que a todos admirava: o que o operário dizia, outro operário escutava".
O corporativismo transformou o professor de educador em militante de causa própria porque a serviço da particularidade da classe social e não a serviço da universalidade do homem. Não há dúvida de que o salário que valorize devidamente o educador e a educação é uma das premissas da revolução educacional de que carecemos. Do povoado do sertão ao câmpus universitário da metrópole, o educador tem carências que não são as carências do Fome Zero. Educação não é farinha de mandioca. "Quem não lê, mal fala, mal ouve, mal vê", dizia Monteiro Lobato, em relação a um item da cesta básica do educador. Fome de educador não é fome de demagogo nem pode ser. Privá-lo dos meios para se educar, reeducar e poder educar é desnutri-lo.
A partidarização de todos os âmbitos da sociedade brasileira, até da religião, levou para dentro da educação os pressupostos da luta de classes. O militante destruiu o educador, drenou da educação a seiva vital que lhe é necessária para ser instrumento de socialização, de renovação e de criação social. A educação só o é na perspectiva dos valores da universalidade do homem, como instrumento de humanização e não como instrumento de segregação e de polarização ideológica, instrumento do que separa e não instrumento do que junta. Na escola, a ideologia desconstrói a escola em nome do que a escola não é.
O populismo, por sua vez, transformou a educação em meio de barganha política, instrumento de dominação, falsificação de direitos em nome de privilégios. O direito que nega a universalidade do homem nega-se como direito. Pela orientação populista, o importante não é que saiam da escola alunos bem formados, capazes de superações, gente a serviço do País. Nas limitações desse horizonte, o importante é que da escola saiam votos, obediências, o ser carneiril das sujeições, e não o cidadão das decisões.
A escola vem sendo derrotada todos os dias, do jardim da infância à universidade, pela educação difusa e extraescolar dos poderosos meios de produção e difusão do conhecimento que já não estão nas mãos do educador. A escola é cada vez mais resíduo de poderes e vontades que estão longe da sala de aula.
* JOSÉ DE SOUZA MARTINS É SOCIÓLOGO, PROFESSOR EMÉRITO DA USP, AUTOR DE A POLÍTICA DO BRASIL: LÚMPEN E MÍSTICO (CONTEXTO) 
Fontes:
http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,o-que-sobrou-da-sala-de-aula,978961,0.htm

*1-http://www.ccs.ufsc.br/psiquiatria/981-01.html

*2-http://www.psiqweb.med.br/site/DefaultLimpo.aspx?area=ES/VerDicionario&idZDicionario=232






O texto inicial é de autoria e responsabilidade de Estéfani JOSÉ Agoston, podendo ser transcrito desde que mantido o espírito e escopo, não para uso comercial ou obras derivadas. As matérias transcritas são de propriedade dos respectivos autores conforme os laços/links fornecidos e indicados como 'Fonte'.

2 comentários:

  1. Então que tal enviar uma cartinha à Academia Brasileira de Letras solicitando a exclusão da palavra "estrupo" (s.m.) do nosso vocabulário?! Faça isso, afinal, se a própria Academia reconhece como correto tal vocábulo, por qual motivo um jornalista não pode usá-lo em sua reportagem sem ser execrado por blogueiros de plantão?

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    1. Senhor Anônimo: Parece que o senhor aprecia uma Academia que tem praticado barbaridades. Aliás, não só a Nação perdeu o rumo moral e Ético, mas também a forma de se expressar, haja vista o resultado de reformas e reformas nos currículos e até na ortografia cujos resultados apreciamos no dia a dia, quando os jovens já não conseguem nem mesmo compreender o que leem, quanto mais conseguirem se expressar de forma clara.Ainda aliás, também se perdeu o bom senso.

      Convido-o a comentar também as demais postagens.

      Agradeço sua visita.

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